Em linha reta

Nunca conheci quem tivesse levado porrada.
Todos os meus conhecidos têm sido campeões em tudo.

E eu, tantas vezes reles, tantas vezes porco, tantas vezes vil,
Eu tantas vezes irrespondivelmente parasita,
Indesculpavelmente sujo.
Eu, que tantas vezes não tenho tido paciência para tomar banho,
Eu, que tantas vezes tenho sido ridículo, absurdo,
Que tenho enrolado os pés publicamente nos tapetes das etiquetas,
Que tenho sido grotesco, mesquinho, submisso e arrogante,
Que tenho sofrido enxovalhos e calado,
Que quando não tenho calado, tenho sido mais ridículo ainda;
Eu, que tenho sido cômico às criadas de hotel,
Eu, que tenho sentido o piscar de olhos dos moços de fretes,
Eu, que tenho feito vergonhas financeiras, pedido emprestado sem pagar,
Eu, que, quando a hora do soco surgiu, me tenho agachado
Para fora da possibilidade do soco;
Eu, que tenho sofrido a angústia das pequenas coisas ridículas,
Eu verifico que não tenho par nisto tudo neste mundo. 

Toda a gente que eu conheço e que fala comigo
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,
Nunca foi senão príncipe – todos eles príncipes – na vida…

Quem me dera ouvir de alguém a voz humana
Que confessasse não um pecado, mas uma infâmia;
Que contasse, não uma violência, mas uma cobardia!
Não, são todos o Ideal, se os oiço e me falam.
Quem há neste largo mundo que me confesse que uma vez foi vil?
Ó principes, meus irmãos, 

Arre, estou farto de semideuses!
Onde é que há gente no mundo? 

Então sou só eu que é vil e errôneo nesta terra? 

Poderão as mulheres não os terem amado,
Podem ter sido traídos – mas ridículos nunca!
E eu, que tenho sido ridículo sem ter sido traído,
Como posso eu falar com os meus superiores sem titubear?
Eu, que venho sido vil, literalmente vil,
Vil no sentido mesquinho e infame da vileza.  

Fernando Pessoa


Edward Estlin Cummings

eu levo o seu coração comigo (eu o levo no
meu coração) eu nunca estou sem ele (a qualquer lugar
que eu vá, meu bem, e o que quer que seja feito
por mim somente é o que você faria, minha querida)

tenho medo

que a minha sina (pois você é a minha sina, minha doçura) eu não quero
nenhum mundo (pois bonita você é meu mundo, minha verdade)
e é você, que é o que quer que seja, o que a lua signifique
e você é qualquer coisa que o sol vai sempre cantar

aqui está o mais profundo segredo que ninguém sabe
(aqui é a raiz da raiz e o botão do botão
e o céu do céu de uma árvore chamada vida, que cresce
mais alto do que a alma possa esperar ou a mente possa esconder)
e isso é a maravilha que está mantendo as estrelas distantes

eu levo o seu coração ( eu o levo no meu coração)

O poder de universalizar a primeira pessoa do singular

“Não pense que a pessoa tem tanta força assim a ponto de levar qualquer espécie de vida e continuar a mesma. Até cortar os defeitos pode ser perigoso – nunca se sabe qual o defeito que sustenta nosso edifício inteiro…há certos momentos em que o primeiro dever a realizar é em relação a si mesmo. Quase quatro anos me transformaram muito. Do momento em que me resignei, perdi toda a vivacidade e todo interesse pelas coisas. Você já viu como um touro castrado se transforma em boi. Assim fiquei eu… para me adaptar ao que era inadaptável, para vencer minhas repulsas e meus sonhos, tive que cortar meus grilhões – cortei em mim a forma que poderia fazer mal aos outros e a mim. E com isso cortei também a minha força. Ouça: respeite mesmo o que é ruim em você – respeite sobretudo o que imagina que é ruim em você – não copie uma pessoa ideal, copie você mesma – é esse seu único meio de viver. Juro por Deus que, se houvesse um céu, uma pessoa que se sacrificou por covardia ia ser punida e iria para um inferno qualquer. Se é que uma vida morna não é ser punida por essa mesma mornidão. Pegue para você o que lhe pertence, e o que lhe pertence é tudo o que sua vida exige. Parece uma vida amoral. Mas o que é verdadeiramente imoral é ter desistido de si mesma. Gostaria mesmo que você me visse e assistisse minha vida sem eu saber. Ver o que pode suceder quando se pactua com a comodidade da alma”.

Clarice Lispector

Poema pobrinho

A essência do ser humano, não esta em suas qualidades, nem tanto em seus defeitos, e sim na junção dos dois termos.
O que seria dos sínicos, se não fossem os que para eles sorriram, e espalharam sua tamanha falsidade?
O que seria dos intrigantes, se não fossem os companheiros do mal falado, para contar a novidade?
O que aconteceria com os poetas, se todos que falam da falta de amor, resolvessem praticá-lo?
Se todos deixassem o egocentrismo de lado, e realmente olhassem para o interior, encontrariam a sinceridade na mesma medida da falsidade, assim como o amor e o ódio …
Somos feitos de prós e contras, mas as vezes perdemos a medida, e lá se vai nossa essência.

Eu aprendi a não tentar mudar da noite pro dia . é em vão.
Descobri que qualquer força , é despertada por grandes fraquezas .
Senti na pele que olhos podem até dizer algo , mas a língua , tem o poder de manipular , mentir .
Me indignei com atitudes alheias e cometi as mesmas .
Conheci o amor . só .
Desperdicei amor , alguém estava só .
Desejei ser salva . Enquanto ardia o desejo de ver um alguém afogar .
Despertei olhares . apenas .
Aprendi a não perseguir a felicidade, e descobri ela em mim .
Encontrei minha paz .
Gritei muito sem retorno .
Tapei os ouvidos .
Parei de gritar , e comecei a ouvir .
Deixei de procurar , e fui encontrada .

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De onde vem essa calma?
Isso eu queria saber
Já procurei em minh’alma
E nunca soube responder

“Se eu te disser você promete
Ouvir atento e acreditar?
Vem da certeza da morte
Coisa que não posso mudar”

Pra tudo o mais tem um jeito
Pra todas as coisas ruins
A única fuga impossível
É a do inevitável fim

Se um dia desses com sorte
Eu encontrasse a própria morte
E com ela pudesse falar
Diria, “ó velha senhora
Me diga ao menos a hora
Para que eu possa me preparar!”

“Você não está pronto para tanto
Isso não lhe seria um alento
A bem da verdade, acredite
Só lhe aumentaria o tormento”

“Se eu te contasse agora
Que a você restam algumas horas
Entre tudo, o que escolher?
Saberia aproveitar normalmente
O tempo que há pela frente
Ou mesmo vivo já estaria a morrer?”

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“Não faças chorar uma mulher, pois Deus conta todas as suas lágrimas. A mulher fez-se da costela do homem, não dos pés para ser espezinhada, nem da cabeça para ser superior, mas sim do lado para ser igual, (…) debaixo do braço para ser protegida e perto do coração para ser amada.”

mascaraEu estive pensando. Depois de alguns relatos tão pensados, acredito que por todos. Se no lugar de falar entre linhas distantes do protagonista do assunto, falassemos realmente a verdade na “cara”. Como muitos alégam fazer. Se fossemos falar, á quela pessoa tão indesejada, “chega de papo, eu não suporto seus assuntos”, seriamos escrotos em algum momento pra essa pessoa, quem sabe somos realmente. Agimos politicamente correto para sermos aceitos pela sociedade. Mas e nossos falsos valores ?

Sempre quis conhecer a eternidade, confiei de mais na vida espiritual, no descansso eterno. Todos temos teorias, á muitas nos adaptamos com o tempo. Mas a unica certeza é o vazio, de um passaporte sem explicação, sem remetente, nenhum destino. A monotonia da eternidade anda junto á minha insonia, o meu espiritu é vazio, sem marcas, mesmo antes de mudar o plano espiritual, lentamente esvazia suas lembranças. E essa arma contra lembranças, acaba de perder seu efeito, onde cada um cria sua verdade, a defende, e as respostas que nos faltam, são fantasiadas. O poder a nós conssedido de manipulação, foi por nós mesmos criado, seria ele o dom de passar franquesa, dos contos reais que trilhamos. No lugar disso, abrimos um espasso bem ou mal usado para criarmos verdades não vistas, sentidas. O que eu penso, a ti não diz respeito, mas sempre averá um eixo entre nós, onde um tenta ter sabedoria além do que já foi dito. Tu podes confiar nos meus olhos, escutar o que de meus labios surgem. Mas a unica verdade, mesmo não dita, meu coração quem leva. Podes entender como quiseres, apenas á teu coração, não podes mentir.

” Eis que fácil é ouvir a musica que toca. Difícil é ouvir sua conciência. Acenando o tempo todo, mostrando nossas escolhas erradas. Fácil é ditar regras. Difícilé segui-las. Ter a noção exata de nossas próprias vidas, ou invés de ter noção da vida dos outros.”
( desconhesso o autor )